
E eu ainda pareço escutar o barulho dos seus passinhos doces quando abro a porta, ah, eu estava tão acostumada em ser acolhida de manhã cedo por aquela criatura gentil trazendo em sua boca o seu cobertor, balançando seu rabinho felizmente e rebolando aquela bunda gorda! Era sempre na hora de eu tomar café, que eu atirava um pedacinho de pão com geléia aqui e outro ali e ele abocanhava ferozmente, sempre esfomiado esse meu fedido.
Implorava depois para abrirmos a porta para ele curtir sua manhã na pracinha aqui da frente: rolava na grama, via seus "parceiros", cheirava tudo antes de fazer coco ou xixi. Quando eu chegava da escola, ele já avistava de longe o carro e parava em frente da casa como um protetor com aquele peito largo, as patinhas gordas e pequeninhas, aquela carinha de carente e as orelhas. Aaaah! Aquelas orelhas, quantas vezes eu puxei só pra ele soltar aquele gritinho? Incontavéis vezes.
Quando eu descia do carro, as vezes devido ao meu meu humor descontava no seu desespero em pular em minhas calças limpas. Agora me arrependo disso. Mas eu sempre ficava com um peso na consciência e pedia desculpas, mesmo sem ele entender alguma coisa.
De tarde, quando eu ia tirar minha sestia, algumas vezes ele me tirou do sério choramingando, como se estivesse perguntando se tem alguém em casa, era só eu bater na janela do quarto que o choro logo passava, aah, isso sempre acontecia nas manhãs de sábado e domingo também.
Eu adorava brincar de pega pega com ele, ou seja o que for, eram os dois patetas correndo pela casa, e rodeando em volta da mesa de jantar, as vezes a mãe dava uns sermões na gente, mas continuavamos a brincar.
Ah, era tão simples eu atrair ele pra dentro de casa, era só eu me sentar no chão e bater no colo e dizer: "Vem vem", que ele vinha que nem um dragão de comodo se acomodar em minhas pernas. Ou mais simples ainda era gritar: "VEM PAPAR" que ele vinha correndo. Oh cusco bem esfomiado esse!
Tirando que ele era adorado pela vizinhança, jogava futebol com os guris, se escondia dos trovões na casa dos outros, e volta e meia estava recebendo carinho das pessoas que passavam. Mas com humildade, meu cachorro era bem lindo mesmo *_*
E ele comia até chocolate, algodão doce, chiclete. Que descolado!
Só sei que agora sinto saudades daquele fuço gelado, daquele desesperado pulando em mim, daquele sem vergonha que roubava comidas de cima de mesa e fazia xixi no chão do banheiro. Sinto saudades de levar os sermões por ele.
É foda o desapego.